domingo, 22 de junho de 2008


É uma viagem...
Foi observando a lua que transcendi para dentro de mim, e foi entrando através de meus olhos perdidos, que percebi a luz da lua já em minhas costas, e na medida em que adentrava milímetros mais, a luz advinda do “globo da noite” desaparecia.
O tempo já não existia, o espaço era ilimitado, os passos que seguiam-se um após o outro eram iluminados por uma luz metálica e azulada, podia sentir o vento chocar-se contra minha pele e arrancar o peso do mundo que se esvaía para o lugar de onde veio...
Após andar em meio à escuridão por um bom tempo, um espaço imenso com natureza surgia quase em dégradé com a escuridão que ali se acabara, detalhes urbanos, muitas pessoas estavam por todas as partes, e no meio de tudo havia um núcleo emitindo uma luz intensa, parecia um sol da qual brilhava sem trégua...
Logo, pude olhar para o meu lado direito e avistar uma senhora de cabelos brancos, de pele clara e enrugada, com óculos apoiados no nariz, tinha aparência simpática, vestia uma roupa completamente branca, e sentada num banco de praça, de madeira rústica, empunhava um livro grande de capa vermelha, onde na capa estava escrito com letras douradas “VIDA”, a mesma senhora, lia o livro atentamente com uma voz calma e rouca para um bando de pequenos espectadores que a rodeavam, havia pelo menos 30 crianças que escutavam com atenção a todas as palavras ditas pela vovó... Observando, continuei a caminhar e admirar o incrível local em que me fazia presente, pisava sobre grama intercalada com ladrilhos, que dava um charme único a estrada que seguia seu trajeto interminável...
Um pouco mais a frente pude ver pessoas voando, algumas pairavam calmamente no ar, já outras, na sua grande maioria crianças, rasgavam a resistência do ar em velocidades até então atingíveis apenas por carros de “F1”, incrivelmente para todos os lados por onde eu olhava, a sensação que tinha é que muita felicidade transparecia em cada detalhe...
As pessoas que eu podia ver eram donas de uma beleza incomum, beleza que se assemelhava a de anjos de pinturas bíblicas... Na verdade não vazia a menor idéia do porque de estar presenciando tudo aquilo, relutava em acreditar que meus olhos eram contemplados com tanta beleza, pureza, sentimentos vindo de uma paisagem muda e ao mesmo tempo inigualável...
Transcendência que me possibilitou olhar por dentro, perceber que a estrada por onde eu caminhava significava a infinita caminhada de um destino desconhecido, porém cercado de maravilhas que só Deus pode nos dar...
Núcleo surreal que me mostrava o quanto a minha própria vitalidade era intensa e imensurável...
Vovó de cabelos brancos empunhando um livro de capa vermelha de titulo “VIDA”, amontoadas pequenas crianças ingênuas e curiosa ouvindo atentas a cada bradar da senhorinha de branco, me fizeram ver que minha vida já da um livro, e que por cada nova experiência que me aparece, uma criança cheias de “porquês” e atenta a tudo aflora dentro de mim para comparar as paginas que já se foram com as que acontecem, e as que ainda estão para acontecer, isso enfim representa minha fome pelas coisas da vida sempre...
As pessoas que deslizavam no ar, rapida ou calmamente, são as mais grosseiras manifestações das minhas inúmeras inexperiências de realizar novas e antigas tarefas, com a calma e a segurança de pessoas que por sua beleza parecem não se abaterem pelas farpas do mundo, quanto também a inexperiência jovial que clama por travessuras sem ligar para o “depois da merda feita”, isso somando resulta no que eu defino por “é errando que se aprende, é aprendendo que se amadurece, e é amadurecendo que se torna criança outra vez”, ciclo perfeito que deveria permanecer (nem sempre permanece) em todos.
Pude pelo resto da viagem me sentir túrgido com tanta complacência irreal-real.

terça-feira, 3 de junho de 2008


Estamos com fome de amor...
Baladas recheadas de garotas lindas, com roupas cada vez mais micros e transparentes, danças e poses em closes ginecológicos, chegam sozinhas e saem sozinhas. Empresários, advogados, engenheiros que estudaram, trabalharam, alcançaram sucesso profissional e, sozinhos. Tem mulher contratando homem para dançar com elas em bailes, os novíssimos "personal dance", incrível. E não é só sexo não, se fosse, era resolvido fácil, alguém duvída? Estamos é com carência de passear de mãos dadas, dar e receber carinho sem necessariamente ter que depois mostrar performances dignas de um atleta olímpico, fazer um jantar pra quem você gosta e depois saber que vão "apenas" dormir abraçados, sabe essas coisas simples que perdemos nessa marcha de uma evolução cega. Pode fazer tudo, desde que não interrompa a carreira, a produção. Tornamos-nos máquinas e agora estamos desesperados por não saber como voltar a "sentir", só isso, algo tão simples que a cada dia fica tão distante de nós. Quem duvida do que estou dizendo, dá uma olhada no site de relacionamentos ORKUT, o número que comunidades como: "Quero um amor pra vida toda!", "Eu sou pra casar!" até a desesperançada "Nasci pra ser sozinho!" Unindo milhares ou melhor milhões de solitários em meio a uma multidão de rostos cada vez mais estranhos,plásticos, quase etéreos e inacessíveis. Vivemos cada vez mais tempo, retardamos o envelhecimento e estamos a cada dia mais belos e mais sozinhos. Sei que estou parecendo o solteirão infeliz, mas pelo contrário, pra chegar a escrever essas bobagens (mais que verdadeiras) é preciso encarar os fantasmas de frente e aceitar essa verdade de cara limpa. Todo mundo quer ter alguém ao seu lado, mas hoje em dia é feio, démodé, brega. Alô gente! Felicidade, amor, todas essas emoções nos fazem parecer ridículos, abobalhados, e daí? Seja ridículo, não seja frustrado, "pague mico", saia gritando e falando bobagens, você vai descobrir mais cedo ou mais tarde que o tempo pra ser feliz é curto, e cada instante que vai embora não volta mais (estou muito brega!), aquela pessoa que passou hoje por você na rua, talvez nunca mais volte a vê-la, quem sabe ali estivesse a oportunidade de um sorriso à dois. Quem disse que ser adulto é ser ranzinza, um ditado tibetano diz que se um problema é grande demais, não pense nele e se ele é pequeno demais, pra quê pensar nele ? Dá pra ser um homem de negócios e tomar iogurte com o dedo ou uma advogada de sucesso que adora rir de si mesma por ser estabanada; o que realmente não dá é continuarmos achando que viver é 'out", que o vento não pode desmanchar o nosso cabelo ou que eu não posso me aventurar a dizer pra alguém: "vamos ter bons e maus momentos e uma hora ou outra, um dos dois ou quem sabe os dois, vão querer pular fora, mas se eu não pedir que fique comigo, tenho certeza de que vou me arrepender pelo resto da vida".
Antes idiota que infeliz!

Arnaldo Jabour